Os investidores receberam esta quarta-feira com alívio a conclusão de que o programa OMT do BCE é “compatível” com as leis europeias. Juros da dívida alemã e italiana fixaram novos mínimos históricos.

Boas notícias vindas do Luxemburgo convenceram os investidores que está mais perto o anúncio pelo Banco Central Europeu (BCE) de um programa de estímulos monetários mais arrojado. No mercado da dívida soberana o optimismo fez-se sentir.

As yields das obrigações dos periféricos da zona euro desceram no mercado secundário da dívida esta quarta-feira no prazo de referência, a 10 anos. Destacaram-se as decidas relativas às yields das obrigações gregas que caíram para menos de 9%, o que já não acontecia desde 29 de dezembro de 2014, e às obrigações italianas que fixaram um novo mínimo histórico.

Já se eleva a dois pontos percentuais a redução das yields das obrigações gregas a 10 anos desde o pico recente em 10,66% a 7 de janeiro, na sequência do agravamento da crise política grega. A declaração de disponibilidade de Bruxelas para negociar com qualquer que seja o governo que se venha a formar depois das eleições legislativas de 25 de janeiro abrandou a pressão sobre a dívida grega e fez regressar à gaveta o risco de Grexit (designação de uma saída da Grécia do euro, em inglês).

O custo de financiamento das Obrigações do Tesouro português no prazo a 10 anos desceu para 2,65%, ainda acima do mínimo histórico de 2,417% registado a 3 de janeiro. Recorde-se que, na terça-feira, o IGCP, a agência de gestão da dívida pública portuguesa, realizou uma emissão sindicada em que colocou 3500 milhões de euros numa nova linha de obrigações a 10 anos pagando 2,869%, a taxa mais baixa de sempre.

Também, as yields das obrigações alemãs naquela maturidade de referência fixaram esta quarta-feira um mínimo histórico no mercado secundário, registando 0,424% durante a sessão. No mesmo dia em que o Tesouro alemão colocou mais de 4 mil milhões de euros naquela maturidade pagando 0,52%. Nos prazos de 12 meses a 5 anos, as yields das obrigações alemãs estão em terreno negativo (ou seja, os investidores pagam para as deter em carteira).

Em contraste, nas bolsas europeias continuou a maré vermelha. O índice MSCI para a Europa caiu esta quarta-feira 1,41% e desde o início do mês já desceu 3,39%, sendo o pior desempenho entre os grandes índices “regionais” do mundo. À escala mundial, o índice MSCI recuou hoje 0,73% e desde início de janeiro perdeu 2,33%. Os índices de volatilidade relacionados com o índice europeu Eurostoxx 50 e com Wall Street subiram. O corte nas previsões de crescimento para 2015 e 2016 por parte do Banco Mundial, divulgado esta semana no primeiro relatório semestral. afetou negativamente o “sentimento” dos investidores em bolsa.

 

Sinais positivos vindos de Bruxelas e do Luxemburgo 
Os investidores na dívida soberana da zona euro receberam esta quarta-feira com alívio as conclusões favoráveis apresentadas hoje por um dos advogados gerais do Tribunal de Justiça da União Europeia sobre o programa OMT (de compra ilimitada no mercado secundário de dívida soberana entre 1 a 3 anos) anunciado pelo BCE em setembro de 2012, mas nunca implementado. O advogado geral Pedro Cruz Villalon considerou o OMT “compatível” com o quadro legal da União Europeia, ainda que colocando algumas condições na sua implementação.

Este parecer dado no Luxemburgo foi encarado pelos analistas como “luz verde” para uma decisão do BCE ainda mais arrojada de compra de dívida soberana. Entretanto, o jornal alemão “Die Zeit” divulgava partes de uma entrevista a Mario Draghi, o presidente do BCE, em que este referia que o banco central não dispõe de “possibilidades infinitas” e que é indispensável “recorrer a medidas não convencionais”.

Também a publicação recente da nova orientação da Comissão Europeia sobre a gestão dos ajustamentos nos países com défice excessivo foi interpretada pelos analistas como criando mais margem orçamental, permitindo uma extensão temporária do período de consolidação.

Segundo nos refere o analista Marc Chandler, vice-presidente sénior da Brown Brother Harriman de Nova Iorque, “há uma probabilidade de 75% que seja anunciado pelo BCE um programa de quantitative easing agora a 22 de janeiro, e de 25% que seja anunciado mas que os detalhes e a implementação sejam adiados para mais tarde, eventualmente para a reunião seguinte em março”.

Os contrastes no seio da zona euro não deixam de, volta e meia, se expressarem claramente, por vezes, no mesmo dia. Enquanto o ministro das Finanças irlandês admitia uma conferência sobre a dívida dos periféricos, o primeiro-ministro da Finlândia, Alex Stubb, afirmava um rotundo não a qualquer perdão de dívida à Grécia.

Como se esperava o presidente italiano resignou e foi convocado para 29 de janeiro o início do processo de eleição presidencial por um colégio de 1009 deputados e delegados regionais. Os analistas consideram que a probabilidade do atual primeiro-ministro Matteo Renzi não conseguir recolher apoio maioritário para um candidato presidencial é inferior ao que se verificou na Grécia. No entanto, este evento político não deixa de acrescentar risco político na zona euro.
Fonte: Expresso

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