Portugal terá chegado ao fim da linha da consolidação orçamental, avisou ontem a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE). Esta argumenta que a degradação nas perspetivas orçamentais se deve à conjuntura económica sombria e, como tal, deve evitar-se entrar num género de espiral negativa entre redução do défice e economia a partir de agora.

As medidas planeadas, designadamente as que dizem respeito aos cortes permanentes da despesa, como no caso concreto das pensões e dos salários públicos, devem seguir em frente, mas ir além disso  é melhor não: os investidores já estão a olhar para o potencial de crescimento da economia que é deprimente, evidencia o novo trabalho da OCDE, apresentado em Paris.

Com base no relatório semestral das perspetivas económicas para os 34 países mais desenvolvidos, se o Governo e a troika insistirem, ainda assim, em responder aos desvios para cumprir as metas da troika, é preciso mais 4000 milhões de euros em austeridade.

A OCDE diz que depois de uma recessão de 2,7% este ano (o Governo prevê 2,3%), 2014 será mais uma desilusão, com a economia a estagnar nos 0,2% (contra 0,6% das Finanças). A retoma fica adiada para 2015, na melhor das hipóteses. O desemprego subirá para 18,2% este ano e 18,6% em 2014.

“Os riscos permanecem negativos”. “Mais turbulência no resto da zona euro poderá levar a um aumento do custo da dívida soberana e bancária e a um enfraquecimento dos parceiros comerciais. Isto poderá agravar a recessão e o défice orçamental uma vez que Portugal não tem muita margem de manobra”.

O motor da economia, as exportações, deverá avançar 1,4% este ano e 5,1% no próximo.

No capítulo orçamental, Portugal violará as metas. Este ano, o défice sobe até 6,4% do produto interno bruto (o Governo comprometeu-se com 5,5%) e até 5,6% em 2014, bem longe dos 4% combinados. O cumprimento é “pouco provável”, refere.

A instituição observa que “a economia continua muito fraca”, mas insiste que “é importante chegar a um acordo nos cortes permanentes focados prioritariamente no consumo público e nas transferências sociais”. Está a falar de salários e pensões.

A dívida pública também vai de mal a pior. A OCDE prevê que engorde até 127% do PIB em 2013 e 132,1% em 2014. Gaspar ficou-se por 122,3% e 123,7%, respetivamente.

Em declarações ao Dinheiro Vivo, Jens Arnold, o economista responsável por Portugal na organização, diz que os desvios no défice “não têm impacto na sustentabilidade da dívida e não acreditamos que isto deva espoletar medidas de consolidação adicionais além das já planeadas”. Agora é preciso “deixar os estabilizadores automáticos atuarem”.

Ontem, no Parlamento, Vítor Gaspar disse, em relação às previsões de crescimento, que “a Comissão Europeia é a organização que melhores resultados apresenta, tendo um desempenho significativamente superior ao da OCDE”.

Fonte: Dinheiro Vivo

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