O Processo Especial de Revitalização da Opway surprendeu os credores. A banca é a principal vítima.

O Processo Especial de Revitalização (PER) apresentado pela Opway SGPS na semana passada apanhou a banca de surpresa, que aguardava pelo anúncio do novo dono da construtora para renegociar as dívidas.

A CGD e o atual BES (banco mau), com um total 125 milhões de euros, são os bancos mais expostos. Representam perto de 80% dos 160 milhões da dívida financeira. A recuperação destes créditos dependerá da negociação firmada no âmbito do PER. A  banca preferia negociar com o novo dono, sem estar condicionada pelos mecanismos do PER.

A entrega do PER no Tribunal do Comércio verificou-se antes do leilão de venda, pelo que o vencedor (a moçambicana Nadhari ou, se esta não pagar os cinco milhões de euros, a equipa de gestão de Almerindo Marques) herda uma negociação com os credores num ambiente mais favorável.

Forçar acionista e credores
Na altura da entrega do Processo Especial de Revitalização, Almerindo Marques estava a dois dias de renunciar ao mandato e explicou ao Expresso que fora a solução encontrada para fazer face “às dificuldades financeiras da empresa, com acesso ao crédito vedado pela banca”.

No fim de janeiro, a construtora precisava de pelo menos 700 mil euros para fazer face a salários e outros compromissos urgentes. O PER foi a solução encontrada pela gestão “para resolver o impasse e forçar o acionista e os credores a tomar uma posição”, justificava Almerindo Marques.

Quando ganhou a empreitada de um dos acessos do túnel do Marão, a Opway não consegui arranjar garantia bancária e teve de  entregar em cash à Estradas de Portugal os dois milhões de euros para não perder a obra. A construtora beneficiou de um empréstimo de uma sociedade amiga, exterior ao sistema financeiro.

No total, as responsabilidades bancárias da Opway, entre contratos de factoring, cauções, garantias, totalizam 350 milhões de euros. Mas, a preocupação da banca  reside nos empréstimos e financiamentos  diretos, nalguns casos, em situação de incumprimento. A CGD lidera com 95 milhões, seguida do BES (€32 milhões) e BCP (€13 milhões) e Banco Popular (€6 milhões). BPI, Montepio ou BIC têm uma  exposição residual.

Carteira de €178 milhões para 2015
A carteira de obras que a Opway apresentou aos candidatos  à compra refere empreitadas no valor de 417 milhões de euros, incluindo a espanhola Sarrion. A produção estimada para 2014 era de 220 milhões de euros.

As adjudicações firmes garantem em 2015 uma faturação de 178 milhões de euros.  A construtora conta com sucursais  em Angola, Moçambique, Argélia e Colômbia. A Opway Angola regista uma carteira reduzida (€32 milhões).

O caso Sarrion
Em Espanha, a Opway opera através da Sarrion, depois de 2007 ter aplicado perto de 100 milhões de euros na compra de 70% da construtora. A Sarrion, com sede em Cuenca, apresenta uma carteira de 90 milhões de euros (2015) e mantém uma gestão e atividade autónomas, indiferente aos dramas que perturbam a vida do  principal acionista.

Recentemente, anunciou uma nova empreitada (dois milhões de euros) para executar obras no sector das águas. A gestão pemanece nas mãos da família Sarrion que manteve 30% da empresa.

O destino da construtora espanhola é uma das dúvidas que surge no âmbito do atual processo de venda. Mas no sector é dado como certo que a família Sarrion recomprará a participação da Opway Engenharia e voltará a ser o único dono da construtora.

 

Fonte: Expresso

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