A filantropia portuguesa não é uma moda passageira. Champalimaud, Alexandre Soares dos Santos ou António Mota são disso exemplo.
A fundação António Champalimaud é um dos melhores exemplos da filantropia portuguesa. Vive de recursos próprios, atingiu dimensão internacional e quer angariar financiamento junto do sector privado. O empresário que se exilou no México, reconstruiu a fortuna a partir do zero e ultrapassou muitas batalhas judiciais deixou uma herança forte. “A nossa ambição é crescer e, por isso, como se faz em todo o mundo, não negligenciaremos outras formas de financiamento privado. Nos Estados Unidos há exemplos muito bem-sucedidos de articulação entre instituições como a nossa e empresas e pessoas individuais com vista à promoção da ciência. Na Europa, a tradição é outra e muitos financiamentos são assegurados pelos Estados”, afirmou Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud, ao Diário Económico.
Em 2004, o empresário dedicou parte da herança em testamento para a criação de uma instituição dedicada à investigação e ciência – cerca de 500 milhões de euros, segundo dados divulgados na época, um terço do que se estimava ser a sua fortuna total.
Nessa altura, já Warren Buffett aparecia no topo da lista dos milionários. No entanto, ao contrário de Champalimaud, Buffett ainda não era famoso pela filantropia. Ganhava milhões a investir na bolsa, dava conselhos sobre como ficar rico e contava que em menino vendia jornais de porta-a-porta para depois comprar acções.
Até que em 2006, o norte-americano surpreendeu o mundo ao anunciar a doação de grande parte da sua riqueza para a Fundação Bill e Melinda Gates Foundation. Foi o passo decidivo para a filantropia se tornar moda à escala global. Hoje em dia, o multimilionário lidera a lista dos maiores filantropos do planeta: em 2012 doou 2, 3 mil milhões de euros destinados às Fundações, lideradas pelos seus filhos, ligadas à resolução de conflitos no Congo e ao combate do tráfico sexual na Índia.
A Fundação Champalimaud, considerada pela revista The Scientist, como um dos melhores sítios para trabalhar fora dos Estados Unidos, tem objectivos diferentes. A instituição optou por duas áreas essenciais: cancro e neurociências. “Desde 2011, avançámos na formação de equipas e unidades altamente especializadas, sempre com uma componente de investigação, na área da mama, pulmão, próstata e aparelho digestivo de uma forma geral. Desenvolvemos de uma forma extraordinária a radioterapia e teremos ainda este ano em funcionamento uma escola internacional, em colaboração com uma grande empresa americana, que irá treinar radioterapeutas de todo o mundo”, acrescentou Leonor Beleza ao Diário Económico.
Os empresários Alexandre Soares dos Santos (Fundação Francisco Manuel dos Santos), António Mota (Fundação Manuel António da Mota), Ilídio Pinho (Fundação Ilídio Pinho) ou Luís Portela (Fundação Bial), são outros nomes da filantropia em Portugal.
A nível empresarial, a EDP ou a Sonae são também exemplos. “A filantropia, nesta nova versão de responsabilidade social, não é uma moda passageira. É uma área de intervenção com relevo e consciência nacional, que faz parte do debate político e económico”, diz Luís Capucha, doutorado em Sociologia e professor do ISCTE.
A fundação Manuel António da Mota é um desses casos. A instituição apoia iniciativas de responsabilidade social nos países onde o negócio está presente (Cabinda e Teté foram alguns dos sítios que beneficiaram dos projectos), bem como o apoio social aos trabalhadores em dificuldade.
“A fundação financia-se através da empresa, que afecta uma parte dos lucros, de um milhão de euros anuais. O valor tem-se mantido constante”, diz ao Económico Rui Pedroto, administrador executivo da Fundação Manuel António da Mota.
“Uma empresa de uma certa dimensão tem obrigação de dar o contributo para a sociedade”, é desta forma que o presidente da Fundação Bial, Luís Portela justifica a criação da entidade em 1994. O ex-presidente do grupo farmacêutico lembra a aposta “forte na inovação” que tem feito, pelo que entende que seria útil “apoiar o desenvolvimento da investigação e inovação no País”.
Nos Estados Unidos, a filantropia está profundamente enraizada: existem 1,5 milhão de ONGs, mais de 60 milhões de voluntários e uma infinidade de movimentos comunitários. Buffett classifica mesmo a sociedade norte-americana como “a mais generosa do planeta”. Este mês, juntamente com Bill Gates, o milionário formou o Giving Pledge, um compromisso para que pelo menos metades das suas fortunas sejam doadas após as suas mortes.
Até ao momento, mais de 100 famílias já assinaram a petição. Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, já não precisa de assinar. No ano passado, ele e a mulher, Priscilla, foram os segundos maiores doadores dos EUA, com 377 milhões de euros. Em Portugal, seria quase impossível ver uma situação semelhante. “É muito raro o caso de jovens portugueses que, mesmo tendo boas ideias, consigam fazer fortuna e também doar”, diz o sociólogo Luís Capucha.
A filantropia portuguesa está para ficar, mas ainda continua a anos-luz da realidade americana
Fonte: Económico