Visita oficial foi decisiva para arrancar com projecto já em 2014. Licenciamento de medicamentos e distribuição avançam em simultâneo.

Paulo Barradas (na foto) não esteve presente em todos os momentos oficiais da visita oficial do Presidente da República, Cavaco Silva, à Colômbia, porque estava ocupado a negociar com parceiros colombianos para concretizar o projecto que irá trazer a Bluepharma, já no próximo ano, em três áreas do seu negócio. Elogia a região pelas condições de licenciamento, pelo ambiente negocial. E pela fiscalidade.

Como correu esta visita à Colômbia?

Tínhamos vindo em Junho do ano passado com o primeiro-ministro. E marcámos previamente um conjunto de reuniões com várias farmacêuticas. Permitiu-nos ter contacto com o mercado e as suas especificidades. Achámos o mercado extremamente interessante e voltei cá em Setembro, altura em que negociei um contrato de agente com um especialista para identificar os medicamentos mais interessantes para aqui. E para nos dar o suporte na área regulamentar, fazer as submissões às autoridades de saúde. Estamos nesse processo. Já conseguimos chegar a outras empresas. E fizemos um estudo com algum detalhe, que tem a ver com a visão que temos do nosso negócio.

Em que sentido?

Temos duas linhas de orientação: sermos internacionais e inovadores. Conseguirmos chegar a medicamentos inovadores através dos genéricos. Temos sido uma incubadora de empresas para lançarmos medicamentos inovadores no mercado.

E como é que isso vos ajudou a entrar na Colômbia?

Nós somos vistos na Europa como uma empresa que é capaz de fazer um bom desenvolvimento farmacêutico, ou seja, pegarmos numa substância activa cuja patente vai cair dentro de dois ou três anos e desenvolvermos a formulação. Ficamos donos dessa formulação e podemos licenciar esse medicamento a outras companhias que queiram, quando a patente cai, ter esse medicamente genérico no mercado. Proporcionamos a tecnologia e a produção industrial desse genérico. E queremos especializarmo-nos em produtos potentes, que têm de ser manipulados em condições muito restritas. Neste contexto, fizemos um estudo que nos apontou como mercados para ter uma fábrica na América Latina, o Chile, Peru e Colômbia. A minha missão na Colômbia é, por um lado, identificar farmacêuticas para as quais podemos licenciar medicamentos, por outro, empresas distribuidoras da nossa marca e, finalmente, identificar um parceiro com quem possamos construir uma fábrica aqui.

Porquê a América Latina?

Porque são áreas em grande crescimento, países amigos dos investidores, bons para investir e onde encontrámos pessoas muito afáveis e com quem se pode negociar. Temos também um ambiente que nos permite produzir à escala industrial antes da patente cair, coisa que na Europa não é permitido. Respeitamos as patentes, vivemos deste mercado, não queremos ferir as patentes. Mas custa-nos muito que não nos permitam produzir à escala industrial para armazenar antes da patente cair. E isto bloqueia-nos, porque as empresas querem ser as primeiras a entrar no mercado quando a patente cai. E procuram empresas fora do espaço europeu e dos EUA.

A América Latina tem esse ambiente favorável?

Para licenciar para outros laboratórios e para a distribuição dos nossos medicamentos, dizem-nos que em oito meses temos tudo aprovado, se a informação a submeter for de qualidade. E aí estamos à vontade porque conhecemos os requisitos em todo o mundo e temos muito bons dossiês.

Já fechou alguma coisa?

Ainda não, mas fiz os contactos para já em Junho pôr no papel as negociações sobre estes dois processos.

Tem ideia do que este mercado pode valer nestas duas áreas?

O objectivo que dei às empresas foi de 1,5 milhões de dólares para cada uma das áreas, no primeiro ano.

Que investimento representa este projecto?

Neste momento não é significativo. Já foi, foram anos de trabalho, mas esse investimento está agora a ser amortizado no licenciamento que vamos fazendo com companhias. O desenvolvimento de um medicamento genérico pode custar cinco milhões de dólares. E fazemos tudo a partir de Portugal. Temos um centro de I&D que emprega 45 pessoas e muito orientadas para o desenvolvimento.

O que representa este mercado na vossa facturação?

Poderá representar 5% a 10% da nossa facturação, que em 2012 foi de 32,5 milhões de euros.

Qual é o plano para a fábrica?

A expectativa é ter um parceiro que nos ajude a andar mais depressa e a partilhar o risco. A ideia é definir o território até ao final do ano, 2014 é o ano de projecto, 2015 a construção para em 2016 estar a funcionar.

Como foi recebido este projecto aqui?

Pelas empresas foi muito bem, e pelos políticos também, evidentemente.

Quantos postos de trabalho pode criar?

Em velocidade de cruzeiro, uma fábrica destas poderá empregar entre 100 e 150 pessoas. Em Portugal, empregamos mais de 300 pessoas. E estamos a pensar em trazer portugueses, até cerca de 5% do total da mão-de-obra.

O problema da mobilidade na Colômbia pode ser um obstáculo? 

São produtos de grande mobilidade, viajam de avião. É uma fábrica orientada para a exportação, produção para terceiros, para explorar os canais que temos em todo o mundo. Estamos nos Estados Unidos, Austrália, Europa, Ásia, fechámos agora com o Iraque e Líbia. Temos a Bluepharma Moçambique e Angola, como as nossas primeiras sucursais fora de Portugal.

E a fiscalidade?

A Colômbia tem muitas zonas francas, é muito amiga do investimento e competitiva, mais que Portugal.

Em relação ao licenciamento de medicamentos e à distribuição dos vossos fármacos, têm prazos mais curtos?

Sim, espero que em meados do próximo ano ter já distribuição aqui. Quero vir cá já em Junho para acompanhar isto, tem de se vir muitas vezes, estar muito presente.

Como vão financiar este projecto?

Temos experiência de “private equity”, utilizámos capital de risco ao longo do nosso crescimento, somos “business angels”, temos contacto fácil com estas estruturas. O investimento está assente em capitais próprios, capitais alheios. E eventualmente crédito bancário. Felizmente vivemos sem dificuldades de conseguir crédito por parte da banca.

Fonte: Negócios

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