Desde 2011 que o Banco Central Suíço tinha imposto um limiar mínimo de cotação do franco contra o euro. A decisão de ontem diz tanto sobre as dificuldades da Suíça neste papel de refúgio, como sobre os desafios que a economia da zona euro enfrenta.
1 – Como se travava a apreciação do franco?
Para manter o franco suíço num nível artificialmente baixo e estável – que defendia as exportações da poderosa indústria do país e o sector do turismo – o banco central comprava grandes quantidades de activos em moeda estrangeira (euros), baixando o valor da sua moeda. Vantagens: a economia suíça cresceu acima da zona euro. Desvantagem principal: o banco central começou a acumular uma enorme quantidade de activos em euros (criando potencial risco para toda a economia), um esforço dispendioso.
2 – Por que abandonou a suíça essa política?
O governador do banco central justificou a surpresa com o facto de a apreciação excessiva do franco suíço – a razão para o “travão” – estar a diminuir (uma justificação fácil de vender do ponto de vista político num país em que a população não gosta de ter uma moeda de valor demasiado baixo). Contudo, a verdadeira razão parece ser outra: a esperada acção do Banco Central Europeu. O programa de estímulo que o BCE deverá apresentar no próximo dia 22 – uma última cartada de Mario Draghi para impulsionar a economia europeia – aumentará a quantidade de euros e o fluxo de dinheiro dirigido à Suíça, aumentando a pressão sobre a taxa de câmbio. Para defender o franco de uma apreciação o banco central suíço precisaria de ampliar mais a sua intervenção e compras, numa escala que parece não considerar sustentável.
3 – Por que há tanto dinheiro a entrar na suíça?
Porque toda a liquidez na zona euro – fruto da política expansionista do BCE contra o risco de estagnação/deflação – não está a ser canalizada para projectos de investimento, mas para activos financeiros de “refúgio”, lugares onde o dinheiro fica estacionado. Estes activos incluem dívida pública de países mais sólidos (a taxa de juro a cinco anos da dívida alemã é negativa, o que significa que os investidores pagam aquele país para lhes “guardar” o dinheiro), mais frágeis (como Portugal e os restantes periféricos) ou outros activos, como a sólida moeda suíça. A crise de investimento na zona euro – que resulta essencialmente da austeridade no Sul e da recusa do Norte em puxar pelo investimento público e assistir a política do BCE – pressiona o franco e a economia suíça.
4 – E agora como fica a suíça?
O banco central suíço cortou a taxa de depósitos para -0,75% para desincentivar o “estacionamento” de fluxos financeiros, que pressionam em alta o franco – e não descarta intervenções para baixar a cotação da moeda. A apreciação repentina levará, contudo, a dificuldades para a economia helvética, cujas previsões de crescimento já estavam ontem a ser cortadas por alguns bancos.
Fonte: Económico