Rand Paul, senador republicano do Kentucky, usou o “filibuster”, táctica parlamentar em que o discurso pode ser prolongado até à exaustão, para evitar que o Senado aprovasse o nome de John Brennan como novo director da CIA. E conseguiu.

Foi uma maratona que durou quase 13 horas, sem possibilidade de sair do lugar, nem para ir à casa de banho (e foi mesmo isso que obrigou Paul a terminar o discurso). O senador Rand Paul insurgiu-se contra a possibilidade de começar a haver ataques letais de “drones” em território norte-americano, contra cidadãos americanos. Os “drones” são aeronaves não tripuladas, comandadas à distância, e que têm sido amplamente utilizadas para eliminar terroristas pelos Estados Unidos, mas fora do seu território.

O procurador-geral dos EUA, Eric Holder, enviou uma carta a Rand Paul em que admite o uso de “drones” para levar a cabo ataques mortais a alvos de terrorismo dentro do território norte-americano. “É possível, suponho, imaginar uma circunstância extraordinária em que seria necessário e apropriado, ao abrigo da Constituição e das leis respectivas… que o Presidente autorize as forças armadas a usarem o uso de força letal dentro do território dos Estados Unidos”, afirmou Eric Holder, dando como exemplo o 11 de Setembro de 2011. O procurador-geral respondeu a questões levantadas pelo mesmo Rand Paul.

Indignado com esta resposta, Rand Paul prometeu, antes do sessão do Senado que iria aprovar o nome de John Brennan para a CIA, bloquear essa mesma aprovação. E foi isso que fez durante o seu “filibuster”, que começou pouco antes das 12:00 de ontem, em Washington (19:00 de Lisboa), e terminou pouco antes da 1:00 de hoje (6:00 em Portugal Continental). A maratona durou 12 horas e 52 minutos. No canal de Rand Paul no Youtube é possível recordar todo o “filibuster”.

Rand Paul falou durante a maior parte do tempo, sendo ocasionalmente interrompido por outros senadores republicanos, que lhe iam fazendo perguntas e alimentando o debate. De acordo com a praxe do congresso norte-americano, o “filibuster” é uma prática legítima e só pode ser forçado a terminar se 60 dos 100 senadores assim decidirem (na actual configuração deste órgão, os democratas têm 55 senadores e os republicanos 45, pelo que não é possível a nenhum dos partidos forçar o fim do debate).

Liberdades individuais motivaram o protesto

O senador Rand Paul usou este expediente por se mostrar preocupado com a discricionariedade com que os ataques podem ser usados contra os cidadãos americanos. “Qual vai ser o paradigma sobre como matar americanos na América?”, interrogou-se, durante a sua intervenção. “Podem as divergências partidárias ser uma parte desse paradigma para os ataques com drones?”, acrescentou, citado pelo “New York Times”.

O objectivo de Paul, ainda de acordo com o “NYT”, é obrigar a administração de Obama a garantir que não vai usar “drones” para matar americanos no seu próprio território. Rand Paul chegou a ser irónico, em alusão a Jane Fonda, actriz que protestou contra a guerra no Vietname e por quem Rand Paul não morre de amores. “Lá por não ser um grande fã de Jane Fonda, não estou muito interessado em metê-la numa lista da morte por ataque de um ‘drone’”.

“Continuaria aqui por mais 12 horas para tentar bater o recorde de Strom Thurmond
[protagonista de um ‘filibuster’ de 28 horas], mas descobri que há alguns limites ao ‘filibuster’, e vou ter que ir tratar de um deles dentro de alguns minutos”

 Rand Paul

 

Habitualmente, a maratona do discurso “filibuster” é ocupado com muitas coisas que nada têm a ver com o tema que o origina – já houve senadores a lerem listas telefónicas ou a declamarem a Declaração da Independência para fazer o tempo passar, prossegue o “NYT”. Desta vez, contudo, Rand Paul conseguiu focar-se, na maioria do tempo, na questão dos “drones”.

Não faltaram referências a “O Padrinho” e a Jay-Z

Não deixou de haver, contudo, um apontamento curioso. O senador Marco Rubio, da Florida, citou numa das suas intervenções o ‘rapper’ Wiz Khalifa e “o poeta dos tempos modernos”, Jay-Z (igualmente ‘rapper’ e marido de Beyoncé). Além disso, Marco Rubio citou por três vezes diálogos do filme “O Padrinho”. Uma dessas citações foi a seguinte: “um advogado, com a sua pasta, consegue roubar mais do que 100 homens armados”.

“Não sei até que ponto isto é relevante neste contexto”, admitiu Rubio, “mas achei por bem dizê-lo.”

Quando acabou, Rand Paul invocou necessidades fisiológicas. “Continuaria aqui por mais 12 horas para tentar bater o recorde de Strom Thurmond [protagonista de um ‘filibuster’ de 28 horas], mas descobri que há alguns limites ao ‘filibuster’, e vou ter que ir tratar de um deles dentro de alguns minutos”, atirou, provocando a gargalhada geral.

John Brennan já foi aprovado no comité de serviços de informação do Senado, com 12 votos a favor e três contra. A aprovação final deverá ocorrer numa das próximas sessões da câmara alta do Congresso norte-americano.

Fonte: Negócios

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