Em quatro anos, a Queijo Saloio passou a ter Angola como seu principal destino de exportações. Uma parceria logística pode ser forjada em breve

Fábrica de Torres Vedras | Quatro linhas produzem queijos até meio quilo de peso. Em Abrantes fica a outra unidade.

“A exportação está com um crescimento bom. Neste momento, até ao dia de hoje estamos com um crescimento de 41% desde o princípio do ano”, afirma Clara Moura Guedes enquanto examina os quadros nas folhas A4 à sua frente.

A administradora-delegada da sociedade Queijo Saloio não disfarça contudo a dimensão dos algarismo à sua frente: “Embora ainda represente pouco, a nossa previsão é que até ao final do ano a exportação represente 12% das vendas”. Em 2012, recorda, as vendas fora de Portugal pesaram 8% na facturação consolidada de 23 milhões de euros. Com “crescimento muito diferenciado porque crescemos muito mais fora da Europa”, com Angola e Brasil a liderar o topo de destinos.

Como exportar mais então em 2013? “Estamos a começar com a Rússia – temos um cliente, estamos em vias de começar com um segundo, de maior dimensão – e com um cliente na Índia”. Em ambos os países “o começo é muito difícil – tanto na Rússia como na Índia demorámos dois anos para começar. Com problemas burocráticos, sanitários. Isso foi bastante moroso, mas finalmente lá se conseguiu”.

Mas é em Angola que a administração da Queijo Saloio está “a prever um crescimento muito forte”. É lá que a Queijo Saloio tem “desde o final do ano passado” um representante a gerir o negócio. “É o único país onde temos um representante – era o que precisávamos de ter nos outros. Porque é completamente diferente”. Em quatro anos, o país africano passou de residual para representativo de 15% das exportações, ultrapassando a França na lista de destinos da Queijo Saloio.

A empresa dona da marca Palhais está ainda a “alargar a distribuição” local com “stockagem” e está a estudar “fazer uma parceria com alguém que esteja lá com um entreposto de frio”. É que “a logística é muito mais cara” face aos destinos para os quais a empresa vende na Europa (como Alemanha, França, Suíça, Luxemburgo, e Reino Unido).

O “transporte e a logística penalizam em termos de custo e de validade dos produtos, de reacção, etc., porque fazemos vias marítimas e vias aéreas com alguns clientes”. Sim, reafirma Clara Moura Guedes, “temos clientes que compram queijos frescos e requeijão para Angola por avião”.

A empresa, que há três anos acreditava poder vir mesmo a ter uma fábrica em Angola, ainda mantêm o plano. Ou, pelo menos, a ideia. “Continuamos com o nosso velho projecto, ainda não perdemos a esperança”, admite a gestora. “Ainda na semana passada tive acesso a um programa de apoio à instalação de PME industriais lá que era interessante. Até identificámos um parceiro na área da pecuária. Mas nesta altura não podemos pensar nisso”, reconhece.

Perguntas a Clara Moura Guedes
Administradora-delegada da Queijo Saloio

“Desejar um futuro interessante é uma maldição chinesa. O nosso está a ficar interessante demais”

No mercado português, como está a crise a afectar as vendas?

O ano passado foi difícil. Desejar um futuro interessante é uma maldição chinesa. Eu acho que o nosso, de Portugal, está a ficar interessante demais.

Em 2012 qual é que foi a evolução das vendas?
Fechámos com 23 milhões de facturação em termos consolidados. Tivemos uma quebra de aproximadamente 10% no total em vendas líquidas, que é o drama. Este ano, em volume, estamos praticamente estáveis em relação ao ano anterior, em que já tínhamos perdido, o que portanto não é muito animador. Em valor estamos ligeiramente abaixo, cerca de 3% abaixo.

Essa tendência irá manter-se para o final do ano?
Isso é bola de cristal, certo? Eu espero que não, mas não sei se podemos acreditar nisso. Dependemos obviamente muito do consumo

[no mercado interno], mas somos uma empresa muito pequena – algumas coisas que corram bem podem fazer a diferença. Mas evidentemente que se as pessoas estão a consumir cada vez menos, é complicado do ponto de vista das vendas. E do ponto de vista da rentabilidade é muito complicado esta pressão comercial. Isto alguma vez terá de se inverter, mas na questão da pressão, que haja algum bom senso e que haja alguma regulamentação em breve.

Exportam 8% em valor ou em volume?
Em valor. E a vossa previsão para este ano é 12%.

De que forma é que isto está a afectar os resultados?
Muito. Porque temos uma dimensão pequenina. A questão da exportação de certa forma contrabalança, mas não é tudo.

Ideias-chave

Estratégias que a Queijo Saloio tem seguido para combater a crise e a queda do consumo em Portugal

1. Inovação
“A estratégia para sobreviver passa pela inovação. São produtos diferentes e uma renovação de portefólio permanente. Tentar exactamente que haja propostas pelas quais o consumidor esteja disposto a atribuir-lhe algum valor acrescentado, quer seja conveniência, sabor ou nutrição”.
2. Exportação
“Por outro lado, a exportação, vender para fora”. As vendas da Queijo Saloio fora do território português ascenderam em 2012 a 8% da facturação, de cerca de 23 milhões de euros em termos consolidados. Este ano a meta é que a fasquia passe para os 12%.
3. Micronegócios
“Abrimos duas lojas de fábrica. Em cada fábrica, em Abrantes e Torres Vedras, em conceito de ‘outlet’. Abrimos as lojas há um ano e neste momento as duas lojas são o nosso sétimo maior cliente”. “Estamos a tentar uma data de negócios deste tipo: distribuidores localizados de outros produtos, para distribuírem dois ou três produtos nossos, e a incorporação em cabazes”.
4. “Refreshing” de produtos
Além de entregar a concepção de raiz do novo produto “Cool” a Ricardo Mealha, a Queijo Saloio entregou ainda ao designer português o “refreshing” da marca Palhais, que estará dentro de dois meses nas lojas.

Fonte: Negócios

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