Fábricas de tinturaria e tecelagem encerram e uma parte das máquinas e dos 150 trabalhadores vai passar para a empresa Somelos.
A Têxtil Manuel Gonçalves (TMG), um dos principais grupos económicos do País, vai encerrar duas unidades de produção nas instalações de Vale São Cosme, em Vila Nova de Famalicão. O grupo vai fechar a fábrica de tecelagem da TMG – Tecidos para Vestuário e Decoração e a unidade de tinturaria de fio da empresa-mãe. O encerramento afecta 150 funcionários, mas 33 já têm lugar assegurado na Somelos, empresa têxtil de Guimarães e uma das maiores do sector. A TMG, presidida por António Gonçalves (na foto), também vai transferir para a Somelos alguma maquinaria. O restante pessoal deverá ser distribuído por outras empresas do grupo. É uma “parceria estratégica” que tem na sua génese um “empenhamento na tentativa de manutenção do maior número de postos de trabalho”, explica o relatório de uma inspecção da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), enviado pelo Ministério da Economia e do Emprego (MEE) à deputada do PCP, Carla Cruz, que colocou questões sobre a “situação social” da TMG em Vale São Cosme. A deputada questionou o Governo sobre rumores de que a TMG ia encerrar estas instalações. O acordo está materializado num plano de gestão, que prevê que a maquinaria e o pessoal sejam transferidos para as instalações de Ronfe (Guimarães) da Somelos, que se localizam exactamente à frente de uma outra fábrica da TMG, dedicada ao acabamento de tecidos e malhas. Se os funcionários mostrarem vontade, ser-lhes-á apresentado um Contrato de Cedência Ocasional à Somelos. A TMG – Tecidos para Vestuário e Decoração e a empresa-mãe vão continuar a existir enquanto “entidades jurídicas” nomeadamente nas áreas “comercial, jurídica, qualidade”. Mas as fábricas vão “encerrar por razões relacionadas com a concorrência enfrentada pelas empresas portuguesas” no sector têxtil. O grupo está a “desenvolver esforços” para assegurar “a preservação dos vínculos” dos restantes 117 trabalhadores. Em cima da mesa está a deslocação desse pessoal para outras áreas da empresa, bem como a “integração noutras empresas do grupo TMG”, como a TMG Automotive, que se localiza em Campelos (Guimarães). Uma outra solução será a “admissão directa no quadro da Somelos”. Todas estas possibilidades dependem da vontade dos funcionários. Nas instalações de Vale São Cosme, onde se localiza o icónico edifício que acolhe os escritórios da empresa, só ficará a funcionar a “actividade industrial de tricotagem”. A TMG tenta evitar a repetição do despedimento colectivo de Outubro do ano passado, quando enviou 50 pessoas para o desemprego. Nenhuma das duas empresas se mostrou disponível para fazer comentários sobre este assunto.
Têxtil deu lugar ao automóvel
O grupo TMG tem actualmente 856 funcionários. A empresa caracteriza-se por uma relação muito discreta com a imprensa. Já a Somelos concentrava, em 2010, 1.256 trabalhadores, entre indústria e serviços, ano em que facturou 63 milhões de euros.Num passado recente, a TMG era líder nacional no sector têxtil. Em 2002, facturou 117 milhões de euros, na área “core” do têxtil e na produção automóvel. Desde então, a unidade automóvel veio assumindo maior relevância no grupo, em detrimento do têxtil. Em 2010, a área têxtil facturou cerca de 40 milhões de euros e a TMG Automotive 34 milhões.
“Pagode” também ‘surfa’ com hélices pelo BCP e Efacec
A sede do grupo TMG (Têxtil Manuel Gonçalves) converteu-se num ex-libris de Famalicão, sendo conhecida por “pagode chinês” devido à sua arquitectura. Fundada em 1937, sob a designação de Fábrica de Fiação Tecidos do Vale de Manuel Gonçalves, transformou-se, em 1965, na Têxtil Manuel Gonçalves (TMG).
Liderado pelo discretíssimo António Gonçalves, o grupo há muito que diversificou os seus negócios. Dona de uma das maiores têxteis nacionais, sector em já foi líder destacada, é accionista de referência do BCP, parceira dos Mello na Efacec e sócia dos Espírito Santo no GES. Detém também as Caves Transmontanas, a Heliportugal (que acaba de perder o concurso para o fornecimento de helicópteros para o combate aos incêndios) e a rede de lojas da marca de surf Lightning Bolt.
Fonte: Negócios