António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), considera que a troika está mais disponível e já reconhece que há carência de crédito na economia portuguesa. O responsável faz duras críticas ao “silêncio” do Presidente da República e afirma que quem manda no Governo é o ministro das Finanças, Vítor Gaspar.

Em entrevista ao programa da Rádio Renascença, Terça à Noite, António Saraiva, afirma que “finalmente”, achou a troika mais disponível para dois factos: “primeiro diziam-nos que a economia portuguesa estava viciada em crédito, já reconhecem hoje que há carência de crédito na economia, da mesma maneira que reconhecem que tem de haver uma política fiscal amiga do investimento”.

“Foram duas agradáveis constatações deste encontro”, acrescentou o presidente da CIP, referindo-se à reunião que os membros da concertação social tiveram no dia 28 de Fevereiro com os membros do Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Portugal, que estão em Portugal para realizar a 7ª avaliação do programa de ajustamento português.

No final desse encontro, tanto a CIP, como a UGT, mostrara-se satisfeitas com a flexibilidade manifestada pela troika. António Saraiva, da CIP, afirmou, na altura, que o discurso da troika deixa margem para alargar até 2015 os cortes de 4 mil milhões de euros. “Não verbalizaram essa manifestação de vontade” mas admitiram “por indirectas palavras” que “poderão vir a aceitar essa dilatação de prazos, como aliás tem vindo a ser falado”.

“Primeiro diziam-nos que a economia portuguesa estava viciada em crédito, já reconhecem hoje que há carência de crédito na economia, da mesma maneira que reconhecem que tem de haver uma política fiscal amiga do investimento.” 
António Saraiva

 

De acordo com a CIP, o representante da Comissão Europeia terá dito que a troika e o Governo pretendem estabelecer algum “equilíbrio” entre a “consolidação” e os “efeitos” que gerou, o que é interpretado por António Saraiva como um sinal de abertura para flexibilizar os prazos para o corte de 4 mil milhões e para a redução do défice orçamental.

Vítor Gaspar é quem manda no Governo

Nesta entrevista à Rádio Renascença, António Saraiva admitiu que existe uma “luta interna” entre o Ministério da Economia e o Ministério das Finanças. “Sentimos

[CIP] isso diariamente nas relações que temos com o Governo”, revelou António Saraiva.

“O ministro da Economia tem ideias, como a famosa questão dos 10% de IRC, mas esbarra na impossibilidade que o ministro das Finanças diz existir, porque quem comanda de facto este País, ao contrário do que toda a gente pensa, não é o primeiro-ministro, é o ministro das Finanças”, afirmou António Saraiva no programa “Terça à Noite”.

“Quem comanda de facto este País, ao contrário do que toda a gente pensa, não é o primeiro-ministro, é o ministro das Finanças.” 
António Saraiva

 

António Saraiva criticou o “silêncio ensurdecedor” do Presidente da República e apelou a Cavaco Silva para que tenha uma “actuação mais dinâmica”, que exija aos partidos políticos “acordos de regime e acordos parlamentares”.

“O País não aguenta mais austeridade. Os reformados não aguentam mais cortes. Os jovens não podem continuar a emigrar. E o desemprego de longa duração não pode manter-se tão elevado. Isto tem que ser alterado”, defendeu o presidente da CIP, acrescentando que “se nada se fizer para mudar esta situação, receio que a conflitualidade social possa ocorrer”. “O rastilho pode ser incendiado a qualquer momento se não existir sensibilidade por parte do Governo para perceber que esta indignação pacífica – a que os portugueses nos habituaram – pode descambar em situações piores”. “Pacíficos até quando? Esta é a dúvida que deixo”.

António Saraiva afirmou ainda não ter dúvidas “que o acordo de concertação social se mantém, mais graças à boa vontade dos parceiros sociais do que do Governo”. “O acordo social mantém-se muito mais por vontade dos parceiros sociais, pela compreensão que todos temos da vantagem que é ter estabilidade social no País, do que do Governo que, de uma forma errática, tem dado uma má utilização da bondade que a concertação social encerra”, afirmou o presidente da CIP. “Acho que o Governo faz isso”, acrescentou, “mais por insensibilidade, porque à maioria dos nossos governantes falta-lhes vida e saber de experiência própria”.

“Lamentavelmente”, prosseguiu, “a nossa democracia criou um conjunto de tecnocratas, de filhos da classe política. Ter sido criado numa proveta ideal chamada partido A ou partido B limita muito a visão de um País. Limita o saber das dificuldades que as famílias hoje enfrentam. E os portugueses vivem hoje de uma forma desalentada”. “Temos que dar ânimo e esperança aos portugueses”, defendeu António Saraiva.

Fonte: Negócios

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