Analistas consideram que a extensão das maturidades será positiva, mas não chega. Governo deve manter rumo da consolidação orçamental.

“É um documento algo alarmante. Indica que a troika está muito pouco confiante de que Portugal vai recuperar o acesso aos mercados e demonstra sérias reservas de que o País conseguirá sair do programa de assistência”. É o comentário de Nicholas Spiro, director da Spiro Sovereign Strategy, à leitura do relatório técnico da troika que servirá de base para a decisão sobre a extensão das maturidades dos empréstimos na reunião de sexta-feira do Eurogrupo.O documento de preparação da reunião de ministros das Finanças do euro afirma que “no momento actual, o acesso de Portugal ao mercado só pode ser considerado como limitado e oportunístico”. E considera que o financiamento mais alargado nos mercados deverá ser constrangido por vários factores. Um deles prende-se com a dificuldade em atrair uma base de investidores estável para futuras emissões com maturidades mais longas, dado o “rating” de alto risco do País. O relatório aponta que na emissão a cinco anos realizada em Janeiro o Tesouro atraiu sobretudo “investidores especulativos”, como “hedge funds” e gestores de activos.”Há uma diferenciação

[no relatório] entre os desafios que se colocam ao financiamento da Irlanda e de Portugal. É mais pessimista em relação a Portugal. Faz emergir o espectro de um segundo resgate”, assinala Nicholas Spiro. O Eurogrupo deverá chegar a acordo para uma extensão de sete anos na maturidade dos empréstimos da troika, a solução que é preconizada no relatório técnico obtido pelo Financial Times e disponibilizado no seu “site”. Um passo favorável para os objectivos do Tesouro, nomeadamente a realização de uma emissão a 10 anos. “O fluxo de notícias negativas em relação a Portugal deverá ser invertido já esta sexta-feira. Com o Governo português a manter a vontade de prosseguir com a austeridade e as reformas, apesar dos obstáculos, a troika deverá incrementar os esforços para manter a história da recuperação portuguesa nos carris”, escreve David Schnautz, estratego de obrigações do Commerzbank, numa nota aos clientes. Mas o apoio do Eurogrupo, por si só, não chega. “É muito mais importante que Portugal seja bem sucedido na redução do défice primário e consiga mesmo um excedente. Só nessa altura poderemos ter a certeza que o País é capaz de estabilizar a dinâmica da dívida”, comenta Padhraic Garvey, responsável pela estratégia de taxas de juro do ING.”A extensão das maturidades é positiva, mas não o factor determinante. Portugal tem de demonstrar que consegue financiar-se nos mercados em volumes significativos. Este é o principal desafio”, considera Lefteris Farmakis, do “research” de obrigações do Nomura. O atraso na sétima avaliação da troika e o chumbo do Constitucional indicam que há riscos significativos na implementação do programa, conclui.

Fonte: Negócios

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