O grupo criou a Unicer Moçambique, mas a nova fábrica só avança quando a resposta comercial atingir o nível certo.

Com os investimentos previstos pela Unicer para Angola à espera de aprovação dos accionistas locais, o grupo de bebidas liderado por António Pires de Lima prepara o desenvolvimento de um projecto industrial para Moçambique. A subsidiária já está criada, esperando que o mercado revele níveis de consumo suficientes para tornar o projecto exequível.

Há um ano, a Unicer anunciava um “assalto” aos mercados do Brasil e dos Estados Unidos, mantendo o foco anterior em Angola. O que resultou dessa estratégia e qual é o plano para este ano?

Do ponto de vista prático, os resultados da área internacional continuam a estar muito sustentados pela presença em África e na Europa Ocidental. Estamos num ponto onde quase 50% da produção de cerveja da Unicer é exportada. Dentro de África, mantém-se um peso especial em Angola, embora com presenças importantes em Cabo Verde e Guiné. Do ponto de vista de desenvolvimento, temos um papel a jogar – interessante numa perspectiva de médio e longo prazos – no Brasil, nos Estados Unidos e também em Moçambique. São as três geografias que foram sendo estudadas ao longo de 2012 e onde estamos a avançar com operações em 2013.

Estamos a constituir a Unicer Brasil, a Unicer EUA e a Unicer Moçambique – esta será a primeira a estar constituída. Já temos pessoas da Unicer a trabalhar em Moçambique desde há um ano, no Brasil e nos EUA desde este mês. O projecto passa por vermos desenvolvimentos comerciais nestes três mercados já em 2013. Não vão contar ainda muito, seguramente, para o volume total da Unicer – mas se quisermos ter presenças relevantes em cinco a 10 anos, é muito importante que as equipas nestes mercados comecem a apresentar resultados em 2013. Em Moçambique, por exemplo, a nossa presença praticamente triplicou nos últimos dois anos. A Unicer exporta 75% da cerveja com marca que sai de Portugal.

O dossier Angola é difícil, está “encalhado” há alguns anos. Duas questões: em que fase está esse dossier; e, se as coisas correrem bem em Moçambique, poderá haver uma transferência de interesses – nomeadamente industriais – de Angola para este novo mercado?

Em Angola, crescemos cerca de 10% em 2012 e 75% das vendas de cerveja portuguesa naquele mercado são nossas. A concretização do investimento

[industrial] tem evoluído de uma forma muito lenta. Estamos na expectativa de que os accionistas, em assembleia geral, decidam avançar com a proposta de financiamento que vai ser apresentada durante 2013. Estamos a falar de um investimento que andará numa primeira fase na casa dos 100 milhões de dólares [74,76 milhões de euros].

Se as coisas não correrem bem, coloca a hipótese de transferir o investimento industrial para Moçambique?

Não coloco a hipótese de a Unicer não investir em Angola. E tenho sentido por parte das autoridades angolanas, do governo angolano, um grande empenho e preocupação em que este investimento avance. Não sei dizer quando porque não depende de nós. Relativamente a Moçambique, temos primeiro de construir uma história de sucesso comercial – como fizemos em Angola. É mais fácil concretizar investimento em Moçambique. Um investimento industrial, que seria uma vontade nossa, depende fundamentalmente do sucesso da nossa estratégia comercial.

Coloca a hipótese de construir uma fábrica em Moçambique?

Claro. Colocamos essa hipótese, mas só depois de atingirmos uma dimensão minimamente interessante naquele mercado. É prematuro estar a dar nota de quando é que essa dimensão poderá ser atingida. O mercado angolano tem um potencial diferente do de Moçambique. Basta dizer que em Angola o mercado atingiu uma dimensão de 800 milhões de litros em 2011, quando em Moçambique andará pelos 220 milhões – em Portugal estamos nos 500 milhões. Angola está quase a ultrapassar a Nigéria como segundo maior mercado de cerveja de África. As oportunidades para a Unicer existem nos dois mercados e acreditamos que Moçambique, com a estabilidade política e a abertura ao investimento externo que demonstra. É um país onde vale a pena focarmos a nossa atenção.

Regressando ao mercado interno: está prestes a entrar em funcionamento um investimento de 90 milhões de euros…
Decidimos avançar para a modernização industrial de Leça, que é um investimento de 65 milhões de euros. Em Abril de 2013, vamos iniciar a produção na nova fábrica. A decidimos avançar com um investimento logístico [um armazém] que estava previsto para 2014/15 e que avança já este ano e que estará concluído no final de 2014: são mais 25 milhões. Será a fábrica de cerveja mais moderna e competitiva de toda a Europa.

Qual é o saldo do fecho de Santarém e em que data encerrará em definitivo a produção de cerveja?

Temos 210 pessoas em Santarém, cerca de 110 vão continuar a trabalhar na fábrica de refrigerantes, haverá 30 a 40 que serão transferidas para Leça. Sairão entre 60 a 70 pessoas. O fecho definitivo será em Abril próximo.

“A Super Bock reassumiu claramente a liderança em 2012″Super Bock e Sagres têm quotas próximas. Água das Pedras é líder inquestionável.
Num mercado bipolarizado, a luta entre Unicer e Central de Cervejas foi substituída pela necessidade de sobreviver num ambiente onde o consumo caiu para níveis históricos.

Como correu o ano de 2012?

Os números de 2012 impressionam. Não porque sejam brilhantes, mas porque, face às circunstâncias que o País e os mercados onde a Unicer opera estão a viver, demonstram uma solidez enorme da empresa. As vendas em volume cresceram 1% – fizemos 653 milhões de litros. As vendas líquidas cresceram 3% para 498 milhões de euros, o resultado operacional situou-se em níveis idênticos aos do ano passado, 51 milhões de euros, e os resultados líquidos cresceram 15%, para 27,6 milhões de euros. A Unicer gerou um ‘free cash flow’ de 36 milhões, o que permitiu, além do pagamento de dividendos, diminuir a dívida em 15 milhões de euros – de 190 para 174,6 milhões. Isto num ano em que investimos no plano de reestruturação industrial, que vai continuar em 2013 e 2014: a construção de uma fábrica em Leça, que irá começar a laborar em Abril num contexto económico que dispensa comentários. O mercado da cerveja em Portugal caiu 10% e o das águas com gás 15% em volume – o que mais retraiu na Europa (o grego caiu 8%).

Isso aponta para que o aumento dos resultados líquidos fique a dever-se a exportações e venda de produtos que não a cerveja.

Não é exactamente assim. De facto, as vendas do mercado interno caíram, mas bastante menos que o mercado – o que significa que a Unicer ganhou quota em 2012. Caímos cerca de 1%, em volumes, porque também entramos nos mercados de distribuição nas águas lisas. Considerando o nosso negócio de marcas, a Unicer caiu 6%. Nos mercados externos, tivemos um crescimento a dois dígitos. Três factores contribuíram para estes resultados: a capacidade de resistência em Portugal, uma trajectória nos mercados externos sólida e rentável, com vendas superiores a 220 milhões de litros e a racionalização da estrutura de custos com a modernização da produção.

Super Bock ‘versus’ Sagres: qual é o balanço de 2012?

As quotas só interessam na medida em que se traduzam em resultados. A Unicer passou de uma quota de 48,6% para 49,2%, uma liderança clara. Tivemos um crescimento mais marginal no canal Horeca [hotéis, restaurantes, cafés] de 49,5% para 49,9%, e muito expressivo no canal alimentar: 46% para 47,5%. A Unicer liderou o mercado das cervejas no ano, embora seja uma liderança muito apertada porque o nosso concorrente mantém quotas próximas. Essa luta que excita tanto as pessoas, no mercado dos hipers e dos supers, a Super Bock reassumiu claramente a liderança em 2012, com uma quota de 41% ‘versus’ 37,6% da Sagres.

Na quota de mercado geral, a Super Bock aproximou-se da Sagres, mas continua prejudicada porque tem uma desvantagem no canal Horeca. A Super Bock lidera nos canais onde existe liberdade de escolha. Também importante dar nota da nossa liderança no mercado das águas – com o dobro da quota do nosso concorrente (se excluirmos as marcas de distribuição). No mercado das águas com gás, a Pedras atingiu uma quota recorde de 52%.

Fonte: Económico

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