Por entre críticas e até lágrimas, o voto foi esmagador: 98% a favor da venda.

Foram precisas quase cinco horas para se aprovar um negócio que só podia ter este desfecho: os accionistas da PT SGPS aprovaram a venda da PT Portugal aos franceses da Altice com 98% do capital votante a validar o negócio. A dona da Cabovisão avalia a empresa em 7,4 mil milhões de euros.

E foi num tom agridoce que os accionistas se referiram à venda. “Quando é a própria Oi a dizer que quer focar-se no Brasil acho que fica assegurado o futuro da própria PT Portugal”, disse aos jornalistas João de Mello Franco, presidente do conselho de administração da PT SGPS. Foi Mello Franco, aliás, que respondeu à maioria das dúvidas e interpelações dos 25 pequenos accionistas que pediram a palavra durante grande parte da reunião magna. Os esclarecimentos foram sendo dados debaixo de críticas e acusações até que Menezes Cordeiro, presidente da mesa, decidiu que não se ouviriam mais accionistas e acelerou a votação.

“Há que safar o futuro”, desabafou Rafael Mora, representante da Ongoing, que tem 10% do capital da PT SGPS. À entrada, disse que este era o negócio “menos mau” para a PT. À saída, garantiu ser “o melhor para o futuro da PT Portugal”. O Novo Banco, como antecipado, votou a favor, assim como a Controlinveste, que tem 2,34%. “Foi o desfecho possível dadas as circunstâncias”, disse Rolando Oliveira, da Controlinveste.

O presidente da Oi foi o único a mostrar-se muito satisfeito com o resultado da votação. Bayard Gontijo disse apenas que “a Oi está satisfeita com a votação. É o melhor para as duas empresas, para a PT Portugal e para reduzir a alavancagem da Oi”. A brasileira é, de resto, a maior beneficiada com o negócio. Precisava de assegurar a venda dos activos em Portugal para renegociar os prazos de pagamento aos obrigacionistas no Brasil. Só assim conseguirá também financiar a participação no movimento de consolidação no Brasil, essencial para o futuro da empresa.

Esteve representado 44% do capital, sendo 34% votante devido à inibição de voto da Telemar. Num encontro emotivo, os pequenos accionistas inundaram o conselho de administração e os accionistas de referência de críticas e dúvidas. O calor não se fazia sentir apenas com o ar abafado dentro da sala, estava também no tom das intervenções. Até lágrimas houve.

O negócio contava com alguns opositores, que defendiam a resolução da fusão com a Oi. Entre eles estava Menezes Cordeiro, presidente da mesa da assembleia-geral, que defendia a anulação do negócio. À saída, questionado, disse apenas: “Não tenho de ficar desiludido nem deixo de ficar. Só tenho de assegurar que as regras foram cumpridas”. Sobre a possibilidade de resolução da fusão foi parco em palavras: “Na teoria é sempre possível”. O sindicato da PT, aliás, admite impugnar a decisão.

Com a votação termina um ciclo conturbado para a PT e arranca uma nova fase para a empresa. A venda à Altice deverá estar concluída até Junho e a operadora, que sempre foi portuguesa, deixará de ser brasileira e passará a ser francesa.

 

Fonte: Económico

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